Um ano. Meu pirulitinho completa um ano hoje. Um ano desta nova vida que, por sorte, conseguimos ver bem de pertinho. Um ano inteiro no papel de mãe e o Wag no de pai. Um ano de aventuras com esse galeguinho que, por algum motivo escolheu a gente.
Obrigada, vida! Sempre quis escrever um relato de parto e acho que agora vai.
Mas, antes, deixe-me apresentar o cenário e alguns dos envolvidos nesta aventura:
Parto domiciliar – Eu queria um parto natural e em casa. Queria aquela dose cavalar de ocitocina no meu corpo. Queria sentir o nascimento do meu filho. Eu precisava disso para que a ficha de mãe caísse. Este seria o primeiro desafio da minha forma de maternar.
foto: Flávia Valsani
Fernanda Tambelini – Doula, amiga e fundamental. Começou a frequentar nossa casa e me ajudou a entender o que estava acontecendo. No dia do parto me acalmou, massageou e olhou nos meus olhos com a cumplicidade de que eu precisava.
foto: Flávia Valsani
Ana Cris Duarte – Parteira referência que acompanhou meu pré-natal. Nos acolheu e tratou a gente com respeito. Ana ajudou a entender o meu protagonismo naquele momento, mas por ironia do destino não pôde acompanhar o parto.
Letícia Ventura – Parteira maravilhosa e braço direito da Ana Cris. Passou em casa no domingo 31/5, para me examinar, espalhar amor e dizer que eu tinha cara de “mãe de domingo” e que o Vicente provavelmente chegaria naquele dia. Algumas horas depois o TP finalmente começou ❤
foto: Flávia Valsani
Isabele Ruivo – Parteira maravilhosa e mais do que necessária. Nos conhecemos ali e me entreguei aos seus cuidados também.
Taísa Catânia – Obstetra backup. Manja um médico que te recebe na porta do consultório te dá um abraço, te olha com carinho e se emociona quando você diz que seu filho se chamará chama Vicente (mesmo nome do avô dela)? Então, essa é a Taísa. Sem o Dra. mesmo. Ela ficou assim próxima e muito amada por essa família que estava nascendo. Nos aceitou às vésperas da 40ª semana.
Flávia Valsani – Registrou nosso ensaio pré-casamento, o casamento, a gravidez, o trabalho de parto. Amiga maravilhosa, minha memória! Nem desmaiou!
Wagner – O melhor companheiro do mundo. Meu amor infinito. O pai do Vicente. O meu marido, namorado, amigo e dupla imbatível nas aventuras que escolhemos e que escolhem a gente!
foto: Flávia Valsani
Claro, ainda tem o Tomás que me fez acupuntura, a Ana Paula Portela, outra obstetra backup que foi só amor, o Ticiano, anestesista que topou ajudar a gente de bate-e-pronto, a Silvia, pediatra presente no parto e que até hoje acompanha o crescimento e desenvolvimento do Vic.
41 semanas. Ufa! Já estava na hora, né?
Depois de uma semana com contrações que vinham a cada 10 minutos e com 5cm de dilatação, eu carregava comigo a certeza de que tinha superpoderes e de que era muito resistente a dor. Quer saber? Eu não poderia estar mais enganada.
Por volta das 16h do dia 31/5 veio a primeira dor. Essa era novidade, não havia sentido nada assim. Fui tomada por um alívio e uma alegria que nem consigo explicar. Finalmente estávamos embarcando nessa viagem sem volta. Sorrimos, começamos a marcar o tempo. Às 19h o bicho já estava começando a pegar… frequentes, intensas e necessárias. A Fê chegou, conversamos muito e começamos a diminuir o tom. Baixar as luzes, ouvir a playlist (preparada carinhosamente nos seis meses anteriores). Era hora de me concentrar no que estava sentindo…
Doía muito, doía demais… mas passava. Era intervalado. Eu passei muito mal, vômito, diarreia, cansaço, frio… mas quanto mais eu aguentava, mais perto o Vicente chegava. Estava virando mulher ali. Estava virando bicho. Gemia, gritava, chorava e tremia. Olhava para as parteiras e me certificava de que estava tudo bem. Era assim mesmo. Elas me enchiam de elogios dizendo o quanto eu estava indo bem, o quanto estava linda. E a Flavia ali, sendo o mais transparente possível, registrando e também me fazendo aquele cafuné que me enchia de paz.
foto: Flávia Valsani
Wag ao meu lado o tempo todo. Como ele aguentou? Como conseguiu? Não faço ideia… Os homens relatam a dificuldade em ver suas mulheres passando por aquilo e não poderem fazer muita coisa além de encorajar, amparar… Obrigada, amor!
foto: Flávia Valsani
Foram 24 horas em trabalho de parto. Rimos, choramos, dançamos. Ninguém comeu, ninguém dormiu. Gritei, abracei todo mundo com força. Me pendurei neles. Resisti o quanto pude. Encontrei força depois de me sentir acabada. Reza a lenda que até dormi no intervalo das contrações. Não lembro. Perdi muita coisa, porque de alguma forma, às vezes me sentia alheia ao que estava rolando.
foto: Flávia Valsani
Cheguei ao meu limite. Já eram 9,5 cm de dilatação. O Vic, fortão como sempre, estava ótimo, mas por algum motivo não passava pelo colo do útero. Tentamos de tudo. Manobras doloridas, que não cabe explicitar aqui, posições diferentes, banco, chuveiro, cama, cócoras e nada… Eu empurrava, mas ele não passava. Letícia, que já estava preocupada, sugeriu a transferência, mas eu queria tentar mais. Já não tinha forças, mas eu queria mais… Tentamos mais e mais. Chorei e esperneei. Bati o pé no chão. Virei criança. Mas sem forças para continuar, fomos para o Hospital.
foto: Flávia Valsani
A caminho do hospital, tive algumas poucas contrações. Seguramente a Letícia deve ter tomado umas 50 multas – tudo para que eu chegasse logo e pudesse procurar conforto fora do carro.
Chegamos no hospital e aceitei a cadeira de rodas, algo que, de cara, assustou o Wag. Senti mais uma bela duma contração, levantei, me pendurei em alguém (era vc, Wag?) e gritei. Todos os olhares se voltaram pra mim. Acharam que eu estava tendo um treco.
Taísa e Ana Paula já estavam ali, me esperando. Me levaram para ser examinada, Letícia correu com a papelada e, depois de alguma demora e algumas contrações brutas, um enfermeiro arrancou minha roupa com a perícia de um stripper do clube das mulheres, me jogou na maca e corremos para o centro cirúrgico.
Taísa abaixou bem pertinho da minha cabeça, me disse algumas coisas que me libertaram do medo que surgiram a caminho do h. Em seguida, ela perguntou o que eu queria. O que eu queria? Não queria estar ali. Queria tanta coisa… Mas naquele momento, só pensava na analgesia. E foi aí que o Ticiano apareceu. Conversamos um bocado. Ele me fez um carinho na cabeça e, em seguida, me aliviou. A equipe nos deu 30 minutos para descansar, rezar, namorar e dormir. Era tema livre! Fiquei ali com meu companheiro no crime. Lembro dos sorrisos, mas não do que conversamos. Eu me sentia um pouco frustrada, mas ao mesmo tempo aliviada.
Logo eles voltaram. Pedi para continuar deitada. Ainda sentia as contrações mas sem dor. Me orientaram a fazer uma força para elas tivessem ideia de como estava a minha dilatação e vejam, eram 10cm de pura passagem!!! #podevirfilho.
Pausa para a minha loucura – Lembro do nascimento do meu filho como uma cena em preto e branco e slow motion. Sim, quando eu paro pra lembrar, a cena é como a de um filme antigo.
foto: Flávia Valsani
Alguns empurrões depois e o Vicente nasceu.
Acompanhei tudo por um espelho estrategicamente posicionado. Numa contração a cabeça e na seguinte o corpinho. 19h34. Branquelo, enorme e lindo. Estava cansada demais para contar os dedinhos, então só me preocupei com isso no dia seguinte. Ele veio para o meu colo e escorregou no meu corpo. Fez coco na minha mão. Tossiu um pouco e me olhou. “Cara, tem uma nova pessoa no mundo que ficará sob minha tutela e do pai. Caralho, que responsabilidade!”
A pessoa mais importante da minha vida. Meu filho nasceu! Puta que o pariu, que menino lindo! Ficamos grudados nele o tempo todo, hipnotizados por aquele serzinho indefeso. Uma leoa pronta para qualquer coisa, acompanhada por um pai babão e presente. Mãos que checavam todo o tempo se o peitinho dele mexia, se estava respirando. É muito amor/devoção. Meu filho!
Vicente, obrigada por proporcionar tanta coisa. Tanta alegria, aprendizado, dor, medo, coragem e vontade. Um amor que nunca havia sentido por ninguém. Visceral. Algo que me leva ao limite. Céu e inferno. É bem verdade que ser mãe não é uma propaganda de margarina, mas eu tô gostando demais!